Esta musica tem o poder de me levar a um lugar tão distante, seguro e aconchegante... Onde um dia eu estive e fui feliz! Talvez tenha sido a única vez em toda a minha pueril existência em que eu tenha estado realmente inteira em algum lugar deste universo...
Hoje parece que esta menina narrada acima existiu em uma outra vida. A realidade do agora e todas as coisas que esta realidade impuseram sobre mim fazem quase com que eu veja uma completa estranha nesta memória...Porque o tempo nos arrasta, avassaladoramente, sem qualquer permissão para a realidade do agora, de ser “gente grande”.
Só através desta maquina do tempo, a música, sou capaz de perpassar pelas épocas que a memória me permite vislumbrar. Época em que eu sentava em baixo das árvores verdes do sítio do meu pai e esperava os aviões regarem os céus como se fossem enigmas indecifráveis... Época em que tudo parecia tão complicado quando eu tentava escutar as conversas dos meus irmãos e ao mesmo tempo tão simples quando eu apenas sentava no meu mundo e vislumbrava o por do sol ao som de Simon & Garfunkel...
Eu observava atentamente os bambuzais digladiarem-se por causa do vento forte e agradável do fim de tarde vindo do leste e era como um ritual sagrado poder estar ali e testemunhar aquele momento. Eu estava só, mas ao mesmo tempo rodeada de todas as infinitas possibilidades que a juventude e a ingenuidade traziam consigo, rodeada de vida, da mais pura e genuína existência, porque eu apenas sentia o momento como se nada mais no universo existisse e lembro-me que esta era uma das emoções mais gratificantes do existir, nada pode ser mais encantador do que apenas ser!
Eu estava repleta de vida, embevecida em comunhão com a existência e o único movimento que eu fazia era respirar a vida, sem pensamentos, sem confusões ou especulação, sem preocupações ou perturbações. Não havia com o que me preocupar uma vez que não havia nada além de existir. Neste tempo eu costumava acreditar em anjos, santos e bruxas, mas não em demônios porque eu sabia onde a felicidade morava... Hoje, após tanto tempo, procuro muitas vezes em vão este caminho de volta e me perco nas esquinas da minha vida de "gente grande".