terça-feira, dezembro 06, 2005

Butterfly

Estava tudo escuro, como sempre. Lembrei que deveria olhar de novo para ver se algo ficara para trás. Não havia mais nada.
Fui subindo todos os degraus diante de toda imensa escuridão da noite. Quem poderia me escutar? Passei por algumas flores do campo e vi bem adiante rosas noturnas iluminando a passagem. Atravessei pela grande porta como uma brisa que se arrasta, sem tocar em nada. Escutava, ao longe, a partitura mais suave e nostálgica dos últimos tempos. Meus dedos percorriam, assim, sua imensa solidão, e dançavam em seus teclados lisos e antigos... Velhos como a sabedoria de um eremita.
Já estava anoitecendo e de onde eu olhava, cada folha prateada, contra a luz me encantava. Como se me dissesse baixinho, que eu estava indo na direção certa(...) Mesmo sem saber qual era a direção.
De repente me perco em palavras, me acho sozinha e te dedico, de coração, todo o meu singelo castelo de areia. Uma voz ainda me assombra - "Cuidado com a água do mar! Suas ondas, sedutoras, podem te salgar mais do que o necessário, o esperado, o ideal".
Só que, eu não quero mais ter cuidado! Quem disse que ser precavido é garantia de alguma coisa? Eu quero ser intensa, aliás, eu sempre fui, bem sabes disso meu bem. E nesta hora eu te dediquei a minha canção, descobri o que eu andava buscando... Fui eu mesma que encontrei ai... No fundo dos teus olhos. Me achei em ti. Um
pedacinho mágico do céu... Um segredinho de criança que quase não tem importância.
Continuava escutando a sinfonia suave de uma noite... Parecia infinita. Mas, foi eterna em si, porque não chegou a um fim, percorreu toda escala das minhas emoções e continuou tocando fundo. Eu olhava e sentia a quentura no sangue, as horas se tornaram irrelevantes, tudo ficou atemporal. Sai, de fato, daquela velha fotografia e me pus a caminhar pelo salão, andei entre os coqueiros e mergulhei no mar... Mesmo ciente dos riscos que o sal poderia me causar... Penso, às vezes, no ouro que roubei em vão, ao acreditar no amor que nunca existiu.
Ainda olho para trás, só para ter certeza de que não quero mais! Ainda lembro de pedacinhos de estrelas cadentes, só para ter coragem de galopar em mim mesma lá na frente. Sem medo do que não sei, sabendo que tudo, ainda que meio por acaso, depende agora só de mim.

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