domingo, dezembro 18, 2005

Le Piano

Suas mãos. Meus delicados sentidos envolvidos em suas mãos. Como vou dizer, direitinho, o que é ser tocada por você?
Elas fluem, levemente, pelos teclados e pelo meu corpo, preenchendo o ambiente com sons incríveis. Saem daquelas mãos, antigas e sábias; canções e histórias.
Escuto passos. São seus passos pela sala, pelo quarto, por toda parte da casa. Fecho os olhos e volto a escutar os seus dedos acariciando cada nota como se fosse algo delicado, frágil e facilmente quebrável, ao ser manuseado. Nesta hora, sinto suas mãos. O vermelho do sangue se mistura na taça e o calor de meu corpo contrasta com a chuva que cai do lado de fora da vidraça. olho para o lado e vejo, de relance, meu vestido branco, rodado e fragilizado, se desmanchando no contato com o seu corpo impetuoso.
Feliz, continuo ali. Me deleitando com cada nota musical que eu crio por acaso. Um instrumento perfeito, algo que traduz o que sinto sem palavras, sem grandes gestos. Apenas com sons.
"A perfect moment in time".
Não pare! Apenas toque. Sempre toque, mesmo depois do fim. Você nasceu pra isso. Continue me deixando extasiada com seu mistério. Excitada com seus dedos (...) De onde veio? Para onde vai? O que leva nesta bagagem tão antiga? Não fale-me! Não quebre o encanto! Não conte-me seus dias comuns. Me deixe aqui escutando "Le Piano". Me deixe aqui sentada, enquanto "Po Elise" invade a sala.
Continuo sentindo você nos cômodos da casa... A sua busca, às vezes, é tão inexata. Ainda assim, não me deixarei abater.
Vejo vocês todos; na minha frente, abaixo do palco, abaixo da gloria, diante de mim... Esta tudo tão claro agora! É só deixar a musica tocar... É só escutar. E vocês estão lá... Tão previsíveis, tão sem importância.
Volto para o lugar de onde tirei este devaneio, e finalizo bebendo a última gota de vinho que me espera na taça. Porque, depois de três taças, nada mais importa... Os corpos falam por si.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que o encanto nunca se quebre... esse sentimento mágico não merece "não existir"... e que a música do piano nunca pare de tocar, para que essa "sintonia" continue a impulsionar novos sonhos... e "novos momentos perfeitos"...